Desde o incidente do Golfo de Tonkin, dia 4/8/1964, ao largo do litoral do Vietnã, o governo dos EUA crê piamente que precisaria de mentira nova, aprovada pela maioria do Congresso dos EUA, para iniciar novas guerras. E desde então, nem o Congresso jamais duvidou, nem o resto do mundo jamais aceitou, que mentiras delirantes como aquela sempre garantiriam a Washington a desejada guerra.
Nem a verdade sobre aquele incidente – cuja descoberta, sim, demorou a ser divulgada – pôs fim à guerra. Tampouco jamais impediu que o partido da guerra iniciasse sua guerra nova da hora. A força, sim, detém ou põe fim a guerras; a verdade, nunca, nem uma coisa nem a outra.
“A Rússia está virtualmente declarando guerra aos EUA. E temos de levá-la a sério” – disse Richard Durbin, presidente da bancada do Partido Democrata no Senado dos EUA, dia 12/12, um mês depois de eleito para o quinto mandato.
Durbin referia-se a notícias saídas do governo dos EUA e noticiadas fartamente, de uma operação que teria sido conduzida pelo Serviço de Inteligência Estrangeira russo (ru. SVR) para invadir as instalações da empresa de software SolarWinds nos computadores do governo dos EUA. Única novidade nessa denúncia de suposta invasão é que não houve qualquer dano noticiado, nem baixas, nem perdas, informou a Reuters, citando “três dos funcionários que sabiam do assunto”.
O New York Times anunciou: “o vasto ataque da espionagem russa contra o governo dos EUA e empresas privadas, em andamento desde a primavera e só detectado há poucas semanas, está entre os maiores fracassos de inteligência dos tempos modernos”. Mas nem tanto, porque o jornal cuidou de acrescentar que não sabia ao certo. “O alcance dos dados roubados ainda está sendo avaliado (...). Investigadores lutavam para determinar a extensão do dano causado às forças armadas, à comunidade de inteligência e aos laboratórios nucleares afetados pelo ataque altamente sofisticado.” Isso, depois de cuidadosas investigações: “os investigadores trabalharam ao longo de toda a 2ª-feira [14/12] tentando compreender a extensão do dano.”
Durbin — nascido em 1944 de mãe ucraniana e pai irlandês – mal saíra das calças curas quando o incidente no Golfo de Tonkin foi encenado pelo governo Johnson para dar início à guerra total, por terra mar e ar contra o Vietnã do Norte e os Vietcong. Daquela data em diante, não houve guerra que não tenha contado com o voto de Durbin.
De diferente, só o modo de dizer que, sim, a guerra contra o Iraque, em outubro de 2002, parecia-lhe urgente. Quando o Senado decidia se autorizaria ou não aquela guerra para derrubar Saddam Hussein, Durbin propôs mudar algumas palavras no texto da autorização para limitar o uso da força bélica dos EUA: preferiria “contra ameaça iminente” representada pelas armas de destruição em massa do Iraque” – se existissem –, em vez de “contra ameaça continuada à segurança nacional dos EUA” representada pelo Iraque. A emenda de Durbin foi derrotada por 70 votos a 30.
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